Ela chorou.
Bastaram cinco minutos na minha frente, falando do filho que não estava mais em seus braços, para que as primeiras lágrimas surgissem. Foram espontâneas, de alguém que não vê perspectivas na vida.
Aos 20 anos, é viciada em crack. Afastou-se da família, perdeu o filho de sete meses por não ter condições de cuidá-lo, vive na rua ao lado do marido, também viciado.
Os R$ 60 que ganham por dia catando papelão e latas de aluminínio são convertidos em pedra de fumar. De 110 kg, ela passou a 43. É um esqueleto que circula pela área central de Porto Alegre.
Ao falar sobre o filho na reportagem que circula na Zero Hora deste domingo, intitulada “Herdeiros da pedra: Os filhos de mães viciadas”, ela chorou. Apesar da vida desregrada que rumo ao fim precoce, ela ama o filho. Mas a dependência é maior, fecha os olhos.
A história dela me tocou. Não foi a primeira vez que um estranho chora na minha frente contando seu drama.
A íntegra da entrevista publicada:
“Eu queria muito ter meu filho de volta”
Na rua desde os 13 anos e no crack desde os 16, ela cata papelão e latas de alumínio para sustentar o vício. Por dia, os R$ 60 que consegue ajudada pelo marido são convertidos em pedras para fumar. Por causa do fumo, adquiriu asma, bronquite e rinite. O peso se reduziu de 110 para 43 quilos. Os dentes apodreceram.
Perdeu a dignidade e o único filho, que deu à luz no início do ano. Em março, o bebê foi tirado de seus braços por estar em situação degradante nas ruas. Agora, a mãe sonha em se tratar para recuperar a guarda da criança Ao procurar a casa de convivência da Associação Cultural e Beneficente Ilê Mulher, na Capital, ela foi localizada por Zero Hora. Confira trechos da conversa:
Zero Hora – Como você começou a usar drogas?
Mãe – Comecei com 16 anos, direto no crack. Depois minha mãe me levou para uma casa de vítimas de violência. Saí de lá, conheci meu marido e voltei para pedra. Aí fiquei grávida.
ZH – Durante a gestação, você usou drogas?
Mãe – Usei os oito meses e quatro dias a droga.
ZH – Depois do parto, ele chegou ficar contigo?
Mãe – Ficamos numa pensão. Mas o Conselho (Tutelar) veio e disse que era impróprio. Me mandaram para um abrigo, mas saí de lá. Foi quando minha mãe pediu a guarda da criança.
ZH – Você deixava seu filho de lado por causa da droga?
Mãe – (hesita) Poucas vezes deixei ele de lado. Geralmente, quando eu ia fumar, deixava ele com meu marido.
ZH – Como seria se não houvesse a droga?
Mãe – Cuidaria mais.
ZH – Você pensa no seu bebê?
Mãe – (chorando) Eu queria muito ter meu filho de volta. Meu filho é tudo.
ZH – Você se arrepende de ter experimentado o crack?
Mãe – Me arrependo, mil vezes. Eu não queria usar o crack.
ZH – Você espera se livrar da droga e voltar a cuidar dele?
Mãe – Meu plano é me internar. Para poder criar meu filho.
Post Nº 31